Luizinho , O Pequeno Polegar .



  Em 1949, a torcida corintiana começou a chegar mais cedo ao estádio para ver a apresentação do time de aspirantes. O motivo era um garoto baixinho, abusado, que gostava de desmoralizar os adversários com dribles desconcertantes. O Pequeno Polegar .

Nasceu chamado  de  Luiz Trochillo,   Nascido  em  7 de março de 1930  ,  e criado na zona leste da  cidade de São Paulo-SP,   faleceu  em    São Paulo-SP , 17 de janeiro de 1998  , Luiz Trochillo  apelidado, devido à baixa estatura (1,65 metro)  , de O Pequeno Polegar .,  ganhou o apelido  em uma excursão que o Corinthians fez pela Europa em 1952 , em alusão a um personagem de uma fabula infantil onde um garoto “driblava” um ogro mal  ,  foi um jogador  de  futebol  brasileiro que teve histórica passagem pelo Corinthians.  Para muitos corintianos, é tido como o maior ídolo do clube.

Tecnicamente era um atacante que driblava com facilidade, ia ao fundo do campo com velocidade e fazia gols de cabeça, subindo mais do que os zagueiros, embora fosse baixo e frágil fisicamente, rápido e ágil evitava choques com zagueiros grandalhões. Extremamente abusado, tinha o costume de provocar os adversários, gesticulando com a mão chamando-os para um outro drible. Diz a lenda que, em um jogo contra o Palmeiras, ele aplicou sucessivos dribles no zagueiro argentino Luiz Villa, passando a bola entre suas pernas por diversas vezes, o que em uma delas o fez cair no chão. Então, Luizinho sentou-se na bola e o esperou levantar dando, assim, prosseguimento no lance.
  





O maior ídolo do timão de todos os tempos, seus numeros falam por si só, de diferente só um outro apelido, “Carrasco da porcada” ( na época “Carrasco do alviverde” ) fez 21 gols contra o Palmeiras.
Se o rótulo já fosse utilizado naquela época, certamente teria entrado na história como o primeiro "bad boy" da história do futebol brasileiro. A torcida corintiana deu-lhe o apelido de "O Pequeno Polegar".

                  

"Se vendê-lo, a torcida me mata e incendeia o Parque São Jorge".

Com essa declaração, o então presidente do Corinthians, Alfredo Ignácio Trindade, explicou a decisão de não ceder um certo ponta-esquerda do elenco ao Atlético de Madrid por 1 milhão de dólares em meados da década de 1950. Mais do que isso, o dirigente demonstrou com todas as letras que nenhum valor, astronômico para a época, tiraria o prazer da torcida do Timão em se divertir com os espetáculos do pequeno Luizinho.

Luizinho começou no juvenil do Corinthians em 1943, vindo do Maria Zélia, tradicional clube da várzea paulistana. Passou para o profissional em 1949. Fez parte da genial equipe corintiana, que marcou mais de 100 gols no início dos anos 50, recorde até então. Formou um trio arrasador junto de Cláudio, "O Gerente" e Baltazar "O Cabecinha de Ouro".

Luizinho teve chances esporádicas no time principal em amistosos, nos anos de 1948 e 1949.




Porém sua grande oportunidade apareceu em 1950, quando ascendeu ao time de profissionais junto com uma leva de companheiros dos aspirantes, descobertos pelo técnico Rato, como o goleiro Cabeção e o ponta-direita Colombo. Por conta do estilo irreverente, logo caiu nas graças da torcida, que delirava principalmente quando ele ameaçava sentar na bola, diante do enorme médio argentino Luiz Villa, do Palmeiras.
Foi de Luizinho, de cabeça, o gol que deu o título de campeão paulista do IV centenário, em 1954, no empate de 1 x 1 diante do Palmeiras.

Titular absoluto do clube até o início dos anos 60, Luizinho saiu em 1963 quando foi emprestado ao Juventu por causa de um desentendimento com o então técnico Sylvio Pirillo. Voltou ao clube alvinegro em 1964, onde encerraria a carreira três anos depois.

Conquistou 21 títulos, entre eles, o Torneio Rio-São Paulo (1950, 1953 e 1954), Campeonato Paulista (1951 e 1952), o Campeonato Paulista do 4º Centenário, em 1954 e a Pequena Taça do Mundo, em 1953.

Mesmo após encerrar a carreira de jogador, Luizinho não se separou do futebol. Continuou ligado ao Corinthians, e por três vezes foi chamado para exercer a função de técnico tampão da equipe, ocasião que percebeu não ter vocação para comandante. Porém jamais se negou a assumir a equipe em momentos difíceis. Sua importância como treinador se dava mais pelo aspecto moral - ídolo dos anos 50 - que propriamente pela orientação tática.

Em 1994 foi homenageado pelo Corinthians com um busto seu no jardim do Parque São Jorge, honraria esta, que até então fora concedida somente a Neco, o primeiro ídolo do clube.

Em 1996 foi feita outra homenagem ao ídolo, aos 65 anos, Luizinho voltou aos gramados do Pacaembu, atuando por cinco minutos, em um amistoso contra o Coritiba que marcava a estréia do atacante Edmundo no Corinthians, tornando-se assim o jogador mais velho a defender a camisa do Corinthians em campo.

Luizinho tornou-se uma das figuras mais queridas do Corinthians e conta com algumas marcas que impressionam o torcedor. Foi dele o gol do título paulista de 1954, sobre o Palmeiras, no ano do 4º Centenário da cidade de São Paulo. É o algoz do arqui-rival Palmeiras, marcando 21 gols em confrontos contra o clube.

Luizinho também é o segundo jogador com maior número de partidas pelo Corinthians, com 605 jogos, o jogador só seria superado nos anos 80, pelo lateral esquerdo Wladimir, com a incrível marca de 803 partidas.


Tal qual Ademir da Guia, do Palmeiras, Canhoteiro, do São Paulo e Dirceu Lopes, do Cruzeiro, Luizinho ficou na lembrança dos torcedores de seu clube, mas não teve grandes oportunidades com a amarelinha. Mesmo assim "O Pequeno Polegar" defendeu a seleção brasileira em algumas oportunidades como em 1956 onde teve uma belissíma atuação em um jogo contra a Argentina, sendo, inclusive, o autor do gol da vitória brasileira que de quebra também daria o fim a um tabu de 10 anos sem vitórias brasileiras sobre os argentinos. Em outra oportunidade no mesmo ano em um jogo contra a Tchecoslováquia no Pacaembu, Luizinho com seus grandes dribles, deixou os beques adversários perdidos em campo, inflamando a torcida, maioria corintiana que havia ido ao jogo apenas para vê-lo jogar. Mesmo com todo seu talento acabou sendo preterido da convocação para a Copa do Mundo de 1958, desanimado Luizinho chegou a dizer que não vestiria mais a camisa da Seleção, dedicando-se dali pra frente apenas ao Corinthians. "O Pequeno Polegar" vestiu a camisa da Seleção Brasileira 11 vezes marcando um gol apenas.

Luizinho morreu em 18 de janeiro de 1998 aos 67 anos, devido a complicações respiratórias. Quase um ano após seu falecimento, o Sport Club Corinthians Paulista era campeão brasileiro, em 1998.





 André Ribeiro, para o Grandes Momentos do Esporte da TV Cultura.


Fiquei imensamente feliz quando descobri que esse especial sobre Luizinho estava disponível no Youtube.


Para mim esse programa, apesar de tantos outros documentários e reportagens especiais feitos durante os 13 anos em que trabalhei no departamento de Esportes da TV Cultura tem um significado extremamente especial. E aqui explico a razão.

O programa surgiu de um desafio que me foi proposto pela equipe do GME: conseguir uma entrevista com Luizinho, o Pequeno Polegar, figura que havia quase 20 anos não falava para nenhum veículo de comunicação. Muitos tentaram sem sucesso.

Você verá um Luizinho completamente diferente do que eu conheci antes das gravações.


Primeiro, para conseguir chegar a ele foi uma aventura que exigiu paciência e persistência. Durante uma semana, fiz praticamente um plantão nas imediações de sua casa. A informação era a de que Luizinho seria facilmente encontrado na praça que ficava ali, bem perto de sua residência. Todos os dias ele e vários aposentados passavam horas ali, jogando baralho, dominó e conversando sobre os bons tempos do ex-craque corintiano.

Mas a realidade foi bem outra. Quando descobriu que havia um repórter atrás dele tentando uma entrevista, Luizinho simplesmente desapareceu, da casa e da praça. Todos os dias, eu repetia o ritual: apertava a campainha de sua casa e conversava com um de seus filhos tentando convencê-lo de que o pai nos desse a tal entrevista. Nada feito. Até que um dia, talvez cansado da minha insistência, o filho me deu uma dica valiosa: “Você quer encontrar o meu pai? Então tem que ir a padaria que se localiza na esquina da av. celso garcia x Antonio de barros (padaria rio de janeiro) que fica próxima daqui. Ele toma café ali todos os dias”.


Quando dizem que todo repórter (ou produtor como neste caso) tem que ter também uma boa dose de sorte, o que aconteceu comigo foi exatamente isso. Cheguei bem cedo à padaria. Sentei-me em um banco qualquer próximo ao balcão e aguardei sua chegada comendo pão com manteiga e o tradicional “pingado”. Foram três dias de espera, até que Luizinho aparecesse. E a sorte conspirou porque o Pequeno Polegar, só mesmo Deus poderia explicar, resolveu sentar-se bem ao meu lado quando na padaria existiam vários outros lugares desocupados.

Após alguns minutos, puxei conversa com ele da maneira que muitos do bairro faziam: “Você não é o Luizinho, o Pequeno Polegar?”. Ele se virou para mim, e com aquela voz de italiano da Móoca e com toda a simplicidade e humildade que Deus lhe deu, respondeu: “Sou eu mesmo”. Para não assustá-lo, preferi não me identificar como o repórter que ele sabia estar a sua “caça” e de quem ele fugia nos últimos dias. Falamos sobre o Corinthians, sobre jogos do passado, sobre o grande craque que ele foi. Ficamos ali de prosa pelo menos uns 10 minutos. Suas respostas explicavam a razão de correr dos repórteres. Parecia rancoroso com o lugar que a história havia lhe reservado. Para ele, o Corinthians havia o esquecido completamente. E era a mais pura verdade.


Até que chegou o momento dele se despedir agradecendo a conversa. Foi quando disse a ele quem na verdade eu era: o tal repórter chato que estava em seu encalço, como um zagueiro adversário. Brinquei com ele com essa metáfora dizendo que agora sim entendia porque os zagueiros tinham dificuldade de marcá-lo. Surpreendentemente, ele sorriu. O mesmo sorriso que você verá ao longo do documentário. E, finalmente, sem perder aquele gesto de abertura, perguntei: “Podemos conversar sobre tudo isso que falamos aqui em sua casa?”.

E antes que respondesse, reforcei o pedido com o seguinte argumento: “Você não precisa me responder agora. Assista ao programa, no próximo sábado, o Grandes Momentos do Esporte, e veja como tratamos ex-jogadores como você”. Ele respondeu: “Eu conheço o programa. Vou pensar. Não sei se vale a pena mexer com essas coisas do passado”. Antes de ganhar o caminho da rua, de volta para os amigos da praça que ele finalmente poderia rever sem ser incomodado novamente, virou-se de repente e falou: “Passe amanhã lá em casa e a gente conversa”. Não era um sim definitivo, mas na manhã seguinte, estávamos lá com a equipe a postos para um possível sim dele para a gravação.


                                     

1ª parte do especial, Luizinho o Pequeno Polegar.

É neste momento que entra a participação sempre decisiva do repórter que fazia a maioria das grandes reportagens do programa: Helvídio Mattos, hoje, na ESPN Brasil. Helvídio tinha (e continua a ter) algo que cativava os entrevistados que nunca ninguém soube explicar. Quando tocamos a campainha da casa de Luizinho, ele se assustou e falou: “Mas o que é isso? Falei pra você vir aqui, mas o que é toda essa gente?”. Entramos eu e Helvídio para conversar com ele. Em meia hora conseguimos convencê-lo e a entrevista que havia 20 anos ele não dava começava a ser feita.


                                   
2ª parte do especial, Luizinho, o Pequeno Polegar.

É o que você pode conferir aqui neste post. Tornei-me grande amigo de Luizinho, uma amizade que até hoje me emociona, pelo carinho e respeito que ambos passaram a ter um pelo outro. O resultado final do programa realmente foi magnífico, mas alguns detalhes fizeram com que eu e ele nos tornássemos tão amigos, mesmo que sempre “distantes”. Durante a gravação, você que assistir ao programa perceberá que no fundo do local onde ele está sentado existe um armário de madeira. Tínhamos o hábito de sempre pedir aos entrevistados material gravado em filmes antigos. Luizinho respondeu assim ao nosso pedido: “Tem uns rolinhos ali naquela gaveta. Pode levar, só me tragam de volta porque não faço nem idéia do que tenha aí”. Quando copiamos o material, descobrimos que os tais “rolinhos” eram a festa de casamento dele e imagens inéditas de um amistoso que o Corinthians fez na Alemanha, contra o Bayer, em 1959. Até aquele dia, as imagens de Luizinho em campo, jogando, driblando, correndo pra lá e pra cá, mostrando o seu talento, eram raríssimas. Um filme com aquela qualidade então nem se fale. Até ele se emocionou em rever aquelas cenas.


                                   
3ª parte do especial, Luizinho, o Pequeno Polegar.

No final da gravação também há um momento marcante para todos da equipe que participaram das gravações e para ele, Luizinho. Ele aceitou nosso convite de ir até o estádio do Pacaembu para gravarmos algumas cenas dele. Havia anos que Luizinho não pisava novamente naquele gramado. Sua reação, você poderá comprovar ao assistir o programa, foi pura emoção. Sem pedir nada a ele, Luizinho levantava os dois braços para as arquibancadas vazias do Pacaembu, como se pedisse para que todos se levantassem em reverência a ele. Uma reação espontânea que nos deixou impressionados, porque para ele, Luizinho, parecia existir ali, todas sentadas, as quase 50 mil pessoas que costumavam aplaudi-lo aos domingos. A sensação para nós que acompanhávamos a cena era a de que Luizinho realmente estava vendo essas milhares de pessoas. E isso, ele me confidenciou mais tarde: “Elas estavam ali mesmo”...


                                   
 4ª parte do especial, Luizinho, o Pequeno Polegar.

Nunca mais me esqueci dessa cena e suas palavras. E como uma forma de homenageá-lo, prometemos que lhe faríamos uma surpresa. Fomos atrás de caminhos para que a diretoria corintiana da época lhe prestasse uma homenagem, como por exemplo, a construção de um busto para ser colocado no Parque São Jorge. Sensíveis ao apelo, a direção corintiana não teve dúvidas e o busto está lá, desde 1994 e até hoje.


                                     5ª parte do especial, Luizinho, o Pequeno Polegar.

Mas o momento mais marcante para mim, como produtor e repórter foi ter dele, Luizinho, a humildade da gratidão. Logo dele, um ídolo que jamais precisaria ter de pedir por isso. Todos os finais dos poucos anos que ele teria de vida pela frente (a entrevista foi gravada e exibida em 1993 e ele morreu cinco anos depois), Luizinho sempre me ligava para me desejar boas festas e agradecer o que fizemos por ele. Não adiantava lhe dizer que aquilo não precisava ser feito pois tudo que acontecera, ou seja, reverenciá-lo eternamente, era mais do que obrigação, nossa e de toda a mídia. E o Pequeno Polegar nunca deixou de ligar.


Busto de Luizinho, no Parque São Jorge.


Em 1996, ele recebeu outra homenagem inesquecível. Na estréia de Edmundo com a camisa 8 do Corinthians, Luizinho jogou 5 minutos entre os titulares.

Para ele, certamente, não só pisar, mas jogar novamente no Pacaembu lotado foi eterno.


                                    O reencontro de Luizinho com a FIEL torcida.

Até que o dia 17 de janeiro de 1998 se tornasse um dos dias mais tristes de minha vida como repórter e ser humano.

Eu estava em férias, com a família, na praia do Guarujá, litoral sul de São Paulo. O telefone tocou e um amigo sabendo do carinho e respeito que tinha por Luizinho falou com jeito: “Se prepare, tenho uma notícia triste. O Pequeno Polegar morreu”.


Há coisas inexplicáveis na vida de um homem. Para mim que já havia sofrido recentemente a dor da perda do próprio pai (falecido em 1992), sentir novamente aquele mesmo vazio incrível pela perda de uma pessoa seria impossível. Mas não...ela voltou a acontecer. Criou-se entre nós algo que a maioria dos seres humanos esquecem na vida: o respeito e a admiração. Buscando na memória naquela fração da dor pela notícia recebida, lembrei-me da resposta que ele me dera a primeira vez quando lhe perguntei porque ele tornara-se tão grato a mim pelo programa, a homenagem do busto, etc...E sua resposta explica a dor que senti: “Você fez algo por mim que nem minha família e amigos próximos conseguiram fazer. Você me trouxe de volta a vida. Agora eu posso morrer feliz”.


Quem poderia se esquecer de algo assim e não sofrer por tal perda? Luizinho havia me confidenciado que chegara a perder parte do estômago devido às decepções sofridas com o esquecimento corintiano, pelo menos até o dia em que decidimos entrevistá-lo e transformar aquele encontro no especial que você vai assistir aqui.

Um momento eterno. Um craque e homem que descansa em paz porque em vida pode reviver com honra e orgulho tudo aquilo que fez pelo time que tanto amava.

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